quarta-feira, janeiro 19, 2005

o galo mudo

Em todo o reino ouviu-se a música. A noite marota, cheia de lua, convidava à festa. Avistavam-se a quilómetros as luzes no castelo. Vieram camponeses e damas de outros reinados, vestidos a domingo, para extasiar o rei. Era a maior festa de sempre, um banquete para exércitos mil. Vai desflorar, o rei.
Niquélido, desmarido de três vadias, queria a esposa mãe. As donzelas fizeram-se de imediato ao estoirar o apelo. Rebentaram em todos os lagos e canteiros do castelo. Caíram de reposteiros, deslizaram de corrimões. Foi um sem fim de empurrões e sufocos, com tanta mulher a acorrer às terras de sua majestade.
Três núpcias ruíram interrompidas, por teimosia da pila aristocrata. As noivas foram degoladas, acusadas de bruxaria, antes da luz cantar o primeiro dia dos seus matrimónios. O rei foi embrutecendo, mais animal que senhor, amaldiçoando o mundo pelo inútil apêndice. Nenhuma mulher ou mula levantava ao senhor, o pau em lascívia. O primogénito é imperativo na linhagem da casa.
O galo puxou-se ensonado para o poleiro e deteve-se no canto ao escutar na sacristia o rei em confissão. Em vez de acordar as gentes, zombou do senhor em cantiga jocosa. Palavras e palavras de risos contorceram o reino até ao mijo. Areia aos olhos do povo com mais bruxas noivas, é enguiço sumido do rei. O rei voou ao pescoço do animal e apertou-o até cortar-lhe o cacarejo. O pároco invocou piedade pela criatura e fez o galo prometer que ia curar o monarca. O galo agora mudo, escreveu que se fizesse uma festa, com todas as fêmeas, para que uma inchasse o ego do soberano.
A cópula realizar-se-ia numa festa, quis o rei para provar o seu poder.
As estrelas dançaram ao ritmo da procissão de carroças, burros e cavalos, com senhoras e ciganas, meninas e maduras. As estradas banhadas pelo cortejo, os campos salpicados de fauna, todas salivadas de gula, recortando a paisagem, ao encontro do trono da terra.
O galo correu para o castelo, à prova da vida das suas penas. Com o bico a prémio. Atropelou mulas cansadas e putas perfumadas. Passou por carroças com bebés enfeitados e clãs aprumados. Dançarinas esguias e monstros ferozes. Cruzou-se com outros reis em vestes de rainhas e rainhas em vestes de jóias. Era tal a multidão, que a montar todas as bichas e bichos, o rei ficará a testar por semanas e semanas a maldita pila.
À meia-noite, ainda nem tinha comido a décima parte dos intrusos e convidados, foi quando o rei carregou ao salão, o seu corpo imenso. Enquanto os guardas reais apertaram as massas, o galo saltou ao parapeito de uma janela e usou-a de camarote. O senhor deixou a capa preta escorregar ao chão e subiu despido a poltrona. Milhares de matronas e puritanas o imitaram e esfregaram aos ares as suas partes. O majestoso em carnes penduradas e pelos eriçados, ordenou que se tocasse música. Durante horas desfilaram e jogaram tetas e coxas, atiraram-se ombros lisos e cabelos sedosos. Fugiram gotas de calor e escorreram partes de partes por corpos e superfícies lustrosas. Bailou-se em podre e imunda oferenda, seduziu-se os gostos e os gestos, em permissão desmedida. Lambeu-se os olhares do soberano e do mastro tímido, apertado nas largas pálidas pernas. Nenhuma agitação. O pau do senhor está morto, sem júbilo. Dois dias festejados e o rei mais esmorecido, no entanto, mais frenéticas as meretrizes em sedução insuperável. A dança moldou-se em batalha de carne. A oferta ao rei foi dada aos guardas, aos campónios, às outras donzelas, entre guardas, campónios e donzelas. Do salão às muralhas, das muralhas à encosta, da encosta às aldeias. Pelos campos e rios e riachos e bosques. Em absoluta entrega e comunhão de sexos e formas, em fornicação universal, os velhos das novas, das vacas em bois de mulas e pássaras de éguas nos taberneiros das matreiras com coveiros. Cada charco e tufo de erva foram nuvens para o coito livre das criaturas em descompressão titã. O rei adormeceu. O galo caiu do parapeito da janela com os sobressaltados e cavalgadas de um cavaleiro com duas costureiras, despejado acidentalmente no colo do soberano. Em pânico de se ver em cima do senhor, bateu as asas desesperado. O rei acordou formigado na barriga e com um pulsar nas pernas, um bombear no pau. A vista arregalada com cores de penas e a pila provocada pela confusão das asas, forçaram sem controlo o monarca a agarrar o galo e comungá-lo com o seu corpo. O rito curto e bruto, espantoso para os foliões, paralisou o mundo. O senhor em sôfrega ânsia tortura o galo em golpes, saltando aos cortes, com guturais gemidos. Gritos estremecedores a destruírem o reino e a afastar as águas. As gentes e espécies em terror, com o espectáculo da vida toda entalada e expulsa num só acto. Nas mãos do rei sedento, esfomeado, de corpo gigante, o galo quase sem vida, sacode-se em viagens atormentadas. De salto curto, o rei posto de pé, com impulso brusco, inchou o galo de seiva real. O desconsolo e o sono taparam por três dias, um reino em silêncio.

3 comentários:

Anónimo disse...

OI...SOU CRISTINA, AMIGA DA SUA PRIMA NATASHA AQUI DOS ESTADOS UNIDOS...BOM..QUERIA TE PARABENIZAR PELO SEU SITE...AMEI...

BEIJINHOS
CRIS SALLES, NEWPORT BEACH-CA/U.S.A

Anónimo disse...

eu parabenizo; tu parabenizas; nós entramos em colapso de vernáculo.. est' és una buena.
**** besos d'asteriscos e é bem pá!! vou andando por aqui. la prima

Anónimo disse...

quero disso que tomaste. feito o que pediste, te digo que é do melhor que expeliste, de quanto me foi dado absorver. e com imoderação me fico. H.