sexta-feira, fevereiro 18, 2005

ócio

Sente-se o vento passar por uma fresta da janela mal vedada. O cabelo da boneca sentada no parapeito, balança levemente. Pelo chão espalham-se cartas, recortes, outras bonecas e partes de objectos incompletos. O quarto dorme na morte da tarde. A cama continua por fazer. Lá fora, o sol lambe as fachadas dos prédios e estala a tinta dos carros. A rua rende-se à ociosidade. As pessoas deslizam pelos passeios, em passo de vagar. O mundo desta parte descansa.
Ao espelho, escova o longo cabelo dourado em gestos preguiçosos. Da cadeira escorrem de tempos a tempos, gotas de sangue, no fim do rasto imperfeito. No soalho de madeira do quarto, o sangue já seco, enfia-se pelas fendas. Do mármore branco do corredor, arrasta-se brilhante até ao mosaico da casa de banho, onde já pastoso, esgota-se na banheira. E nela, envolto em mais sangue, pariu-se o feto asfixiado.

4 comentários:

Anónimo disse...

mais uma vez, conseguiste descrever um momento que nos faz imaginar como se estivessemos a ver toda a situação pelo buraco da fechadura ou por uma falha na parede.parece que estamos no local das tuas histórias, honestamente parece que consigo ver todo o momento , enkuanto leio ALGUMAS das tuas histórias :) abraço

Anónimo disse...

e ires escrevendo mais umas coisitas para a malta ler, olha k começamos a perder o hábito...

lura disse...

gostei muito do #perdido#, da forma como induzes a pensar que se trata de uma pessoa, como influencias com as tuas descrições minuciosas e estudadas a forma com que eu leio o texto, a forma com que eu sinto o que tá ali escrito. é quase como se manipulasses as reacções das pessoas que os vão ler mas, antecipadamente e isso é explícito.é, gostei

Anónimo disse...

Entao? nunca mais escreves-te nada de novo? Sabes bem q o amor correspondido e enimigo dos grandes escritores.... ve la o mundo precisa de mais poetas frustrados. pelo menos faz de conta, pode ser que assim a inspiracao volte. te adoro, temos q falar. beijunda. tash tash