terça-feira, abril 05, 2011

a cara triste do sr adeus

num mundo, que não este, existe, do outro lado de si mesmo, uma sala, de uma cor que não queremos saber qual. nessa sala, duas estátuas voltadas de frente para si estão assentes cada uma num palito. os palitos, verticais, de um qualquer material, não estão sob esforço, nem suportam qualquer peso, apesar da considerável dimensão das estátuas. a sala não é grande nem pequena e está despida de adornos. entre as estatuas, sentado numa cadeira, está um homem. o homem fixa triste, o rolo de papel estendido, entalado entre os palitos que sustentam as estatuas. esse rolo tem um texto escrito, na face do papel voltada para o chão.
a estátua, não mais alta que a outra, olha inexpressiva para a segunda estátua. da outra estátua não vamos contar nada.
o homem veio para aqui, ou aqui apareceu, sem interessar para quê ou porquê, sendo que, sobre aquela parte de lá desse mundo, nada sabemos. e ao homem interessa apenas que o que foi escrito não há-de ser lido, a menos que o papel seja tirado debaixo dos palitos e que as estatuas caiam, dado que não há quem as segure ou mecanismo aplicável que possa alterar a actual configuração do espaço e sua ocupação.
é sobre as estatuas, o texto escrito no rolo de papel? será sobre o aparecimento da sala, a construção da sala, a história de quem a fez, ou texto sobre a posição das estátuas e a escolha por pendurá-las em palitos? será um texto sobre alguma coisa, importante ou não? - estas questões ocupam, desde que se conhece, o senhor sentado na cadeira entre as estátuas.