quarta-feira, junho 08, 2005

replay

Quanto foi que paguei para ver se ainda haviam? Tem troco? Ontem ainda tentei aqui passar. Só que atrasei-me tanto no trabalho, que quando dei por mim estava a amaldiçoar a fotocopiadora no duche. Nem me lembro se passei por alguém cá em casa ou não. Porque todos os dias andamos desencontrados. Eu a ver se fujo da rotina e das pessoas nela contidas e depois a fugir disso mesmo porque se tornou rotina. Ou então porque estou a ser parvo, fujo de tudo, principalmente de mim mesmo, a ver se trago algo de novo aos dias da fotocopiadora e dos pratos com restos, no resto, que penso ser uma casa e outras coisas. Que de tanto fugir já nem sei que casa é ao certo e que outras coisas são essas, aparentemente menos rotineiras, porque já não passam de imagens dispersas na memória gasta. Mas dos pratos lembro-me. Acho que tinha comprado até vários serviços, para poder variar e para poder partir à vontade sem me preocupar que pudessem faltar depois. E é fácil começar por pratos, porque esses compram-se e são baratos e pequenos e de várias formas. Começar é como quem diz, porque começar não, eu já me preocupo com isto da rotina há muito tempo, desde muito novo, desde antes de haver rotina, ou de pensar que estava numa idade em que vivesse nalguma rotina. Ou algo semelhante a tal. Até que o duche deixou de ser lembrado, assim como os percursos, assim como as refeições, os livros, as caras, os nomes, os dias importantes e os outros dias. E acabei por estar aqui apenas porque só sei fugir e para fazer qualquer outra coisa tinha de conseguir parar de fazê-lo. Mas é melhor que viver todos os dias o mesmo dia conscientemente, porque assim é que dá mesmo vontade de fugir. Para outro sitio qualquer. Onde os dias corram de forma diferente. Passo cá outro dia, está bem?

amuo

Andei atrás de ti para te dizer: Se te colasses a mim mais que 3 vidas, empurrava-te para o buraco. Ignoraste-me. Fechei os olhos com raiva, chorei em todas as ruas e casas por onde vais passar. Cuspi para o ar, a ver se marcava o céu e inscrevia o meu mundo nas tuas palavras, mesmo que não falasses. Fiz tudo como criança e ainda consegui ser mais parvo que isso, só porque não sei mais como te pedir que te esqueças. E leva-me, mesmo que no buraco não caiba mais que uma agulha e tenhamos de lá ficar até eu voltar a ser um homem.