estou.aZERO

isto é só para quem não procura nada

domingo, novembro 14, 2010

vivo

…e era mais alto que uma árvore. Mais forte que um touro. Era o que parecia. Com uma pele torrada e engelhada, brilhante do desgaste ao sol. desceu pela rua às curvas, a passo furibundo, aos pontapés no ar, a praguejar. Ninguém quis chamar importante àquele instante, que era já hábito, que no escaldar do chão, logo depois do dia ao meio, as botas do Raimundo corressem a derreter borracha. Que o resmungar se confundisse com o silvar e o assobiar, mais ou menos quente como o próprio ar, ou que viesse mais ou menos pesado nos ombros, ou no sobrolho, dependendo do quanto calor rangia nas telhas e no vidros pequeninos das janelas aflitas a assar, na manhã, na tarde e antes do anoitecer, sempre que o arder do sol disparasse o bafo das chamas até ao pó dos lancis, da fachadas, dos alpendres. E quase sempre, era assim que a rua derretia, sacrificando a calçada e o alcatrão ao lume lento e doente dos dias de verão.
Na lavandaria, os vidros da montra escorrem gotas mornas que se entrosam no vapor morto. o chão
Publicada por estouazero à(s) 16:22

Sem comentários:

Enviar um comentário

Mensagem mais recente Mensagem antiga Página inicial
Subscrever: Enviar feedback (Atom)

Arquivo do blogue

  • ►  2011 (1)
    • ►  abril (1)
  • ▼  2010 (6)
    • ▼  novembro (6)
      • gonçalo vai à rua
      • rumo
      • absolvição
      • vivo
      • ausente
      • era só isso
  • ►  2009 (3)
    • ►  março (3)
  • ►  2008 (19)
    • ►  outubro (5)
    • ►  setembro (14)
  • ►  2005 (17)
    • ►  junho (2)
    • ►  abril (3)
    • ►  fevereiro (1)
    • ►  janeiro (11)
  • ►  2004 (13)
    • ►  dezembro (13)

Acerca de mim

estouazero
Ver o meu perfil completo
Tema Espetacular, Lda.. Imagens de temas por rajareddychadive. Com tecnologia do Blogger.