domingo, novembro 14, 2010

era só isso

de noite, na luz, iluminado, como se de dia tratasse, fico tenso
podia ser dia.
no recorte da luz, no desenho feito pela sombra, num corpo, num qualquer corpo, um exagero de peso
há aqui mais fantasmas do que era suposto. há aqui mais aparentes memórias do que a razão suspeita.
há aqui um cheio nada. um repleto e perplexo sentimento de vazia suspeita.
pode-se dizer que arrastando por aqui o corpo, pouco se percebe do que ficou atrás e do que avança para outra parte.
podia ser dia, que seria o mesmo, a diferença estaria somente, talvez, desconfio, no desenho da luz e na dureza ou recorte das sombras.
mas uma vez mais, é só uma suspeita e ainda assim, também esta, bastante frágil.
da sombra, do escuro, vem pouco sossego. da luz, pouca calma.
não há sono, nem dormência, nem incómodo. ou pelo menos, não estão convictamente presentes.
há só uma rua, com suas fugazes luzes e ideias fracas, de existências aparentes ou escorregadias.
há esta rua, e outras quaisquer, onde andei. e pouco me lembro dos outros caminhos.
há gente por aqui, mas não recordo se me atrasei por isso.
não consigo lembrar-me de algum episódio em que tenha acontecido qualquer coisa que me tivesse tirado deste estado. ou deste percurso.
há um ritmo. quer dizer, há uma forma geométrica, delineada, não sistémica ou compassada, apenas uma forma, neste caminhar.
aqui, de noite, há mais perguntas.
quanto mais luz há, quanto mais peso nas pálpebras, mas ardor nos olhos, quanto mais penoso o avançar e desbravar da imensidão branca e dura, por estas ruas, sinto mais dúvidas.
e se apagássemos?
- como?
- e se apagássemos a luz, ou o rasto?
- que ganhavas com isso?
- algo novo. remover o que é velho.
- é o que queres?
- é o que é possível.
- vais ficar melhor?
- respondo depois.
- depois será tarde…
mas preciso disso. julgo que preciso. julgo que preciso qualquer coisa. pelo menos é a ideia que tenho. é uma ideia que tenho. aqui exposto à claridade, dói-me a cabeça. e quando não dói estou a preparar-me para a próxima indisposição, que não tarda a vir. e mesmo quando tarda em chegar, é quase como se não demorasse.
é tudo muito frágil, muito volátil. dá-me a impressão que é assim.
- se calhar dás importância às coisas erradas.
- mas calhando, como sabes que são as erradas?
- não sei, mas é uma hipótese…
- tudo é uma hipótese.
- sim, e tudo tem diversas facetas.
- e isso ajuda-me?
- mas queres ajuda?
- pelo menos a luz podia ser mais ténue.
- era só isso, afinal?

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