quarta-feira, setembro 24, 2008

pai

Meu pai, beija-me por favor. Meu pai, dá-me essa tua mão e segura-me certo como fazes instintivamente. Não me largues solto na rua. Meu pai, diz-me que és meu pai para saber que te pertenço e enxuta minhas lágrimas com teus dedos seguros. Meu pai, hoje não quero ser homem e entrego isso a ti. Meu pai, os meus dedos nem sempre sabem certo como fazer o que os teus desenham. Meu pai, há dias em que sou só um rascunho e os meus traços ficam gastos nas pontas. Pai, abraça-me e não me deixes cair. Pai, às vezes as minhas mãos escorregam no ar e eu não lembro como fazes para manter as tuas dominadas e copiar-te. Pai, eu hoje sou outra pessoa e não aquela que fizeste. Meu pai, os homens não crescem, como os pais. Os homens são embriões e eu não sei segurar neles. Meu pai, o mundo segura-se ao colo mas os braços que o sustentam não são vigas, como são os teus. E escapamo-nos. Pai, os outros caem e eu não consigo evitar ser arrastado. Pai, eu hoje sou outra pessoa mas também antes fui.

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